Meus sinceros agradecimentos aos senhores pela sua presença no dia de hoje, apesar de estarem tão atarefados. Convidei-os especialmente, antes da inauguração deste museu, para ouvir suas impressões de abalizados “experts” das belas-artes, e, também, para expor, em rápidas palavras, os meus propósitos.
O objetivo primordial da Religião é a criação do mundo da Verdade, do Bem e do Belo. A Verdade e o Bem são coisas espirituais, mas o Belo expressa-se por meio de formas, elevando o espírito do homem pela sua contemplação.
Como é do conhecimento geral, no Ocidente, desde a antiguidade greco-romana até aproximadamente a Idade Média, e também no Japão, desde a época Shotoku (574-622) até a Era Kamakura (1192-1333), a arte sacra era muito próspera. É incontestável que a Religião foi o corpo materno de todas as artes, seja da pintura, da escultura, da música, etc. Na era contemporânea, todavia, esse elo entre Religião e Arte foi enfraquecendo pouco a pouco, de tal modo que elas acabaram se dissociando por completo. Por influência da Ciência, fala-se muito, hoje em dia, em estagnação da Religião. Entretanto, pelo motivo exposto acima, acho que a Religião e a Arte têm de caminhar tal como as rodas de um carro.
Desejo falar agora sobre as características do Japão.
Tal como os indivíduos, cada país possui uma ideologia cultural particular. A do Japão consiste em contribuir para a elevação da cultura, deleitando a humanidade através do Belo. Poderemos compreender isso observando a magnificência da paisagem desse país; a abundância e variedade de suas flores, plantas e árvores, a sensibilidade aguçada de seu povo em relação ao Belo, a excelência de seu artesanato, etc. Todavia, por desconhecimento da natureza de sua missão e por sua ambição demasiado imprudente, o Japão acabou sofrendo aquela amarga derrota na Segunda Guerra Mundial. Nem seria preciso dizer que o fato de ter sido despojado até de armamentos para não provocar novas guerras, foi Obra de Deus a fim de despertar os japoneses para a sua verdadeira missão. Ultimamente, tem-se falado muito sobre rearmamento, mas trata-se apenas de uma medida de defesa, sendo evidente que não contém outro significado.
Está claro, portanto, o caminho que o Japão deve seguir daqui para a frente. Tendo isso como objetivo, infalivelmente lhe advirá eterna paz e prosperidade. Consciente dessa verdade, venho me esforçando para concretizá-la, embora, no contexto geral, talvez seja insignificante o meu esforço. Como método concreto, primeiramente construí um pequeno Paraíso do Belo, com a intenção de mostrá-lo ao mundo. Os locais que preenchem este requisito, sem dúvida alguma, são Hakone e Atami, pelas facilidades de acesso, pela beleza das paisagens, pelas fontes termais, pela excelência do clima e do ar. São lugares plenamente satisfatórios. Escolhendo um local particularmente belo, nessas duas cidades, e unindo a beleza natural à beleza criada pelo homem, para formar um ambiente artístico ideal, consegui, finalmente, concluir o protótipo do Paraíso Terrestre de Hakone e este Museu de Belas-Artes.
Como é do conhecimento de todos, até hoje não existia, no Japão, nenhum museu de belas-artes tipicamente japonês. Existe museu de belas-artes chinesas, de belas-artes ocidentais, o de arte sacra, nas dependências do Museu Histórico, e outros museus, mas nenhum de arte japonesa. Sendo assim, nem mesmo os próprios japoneses podiam admirar as belas-artes de seu país. Se, por acaso, um estrangeiro nos visitasse e desejasse apreciar obras de arte tipicamente japonesas, era impossível satisfazer sua vontade. Isso não constituiria uma grande falha do Japão, o país das belas-artes? Portanto, se este museu for capaz de suprir pelo menos uma parte dessa falha, será para mim uma grande e inesperada felicidade.
Também gostaria de que os senhores tomassem conhecimento de outro fato.
Felizmente, por ocasião da grande mudança ocorrida em nível nacional, após a guerra, muitos tesouros culturais que estavam escondidos foram lançados no mercado, sendo evidente o quanto isso foi útil para a constituição do nosso Museu de Belas-Artes. É um museu pequeno; entretanto, tenciono fazer dele um modelo, pois acredito que, doravante, surgirão, seguidamente, vários museus, tanto no Japão como no exterior. Por isso, o seu conjunto e até os mínimos detalhes foram objeto de minha especial atenção; naturalmente, os jardins – cada árvore e cada planta – também são projetos meus. Como é obra de amador, esse museu pode ter muitos defeitos, mas, se puder ter alguma utilidade, sentir-me-ei muito satisfeito. Além disso, pensando em possíveis bombardeios aéreos, incêndios, roubos, etc., tomei precauções suficientes tanto no que concerne ao ambiente como às instalações. Creio, portanto, que ele também preencha condições para a conservação de Tesouros Nacionais.
Acredito que os senhores tenham compreendido meus propósitos; mas, repetindo, não tenho outro objetivo senão o de fazer aflorar a natureza intrínseca do Japão, ou seja, a de País do Belo e Paraíso do Mundo. Também tenho planos de, num futuro próximo, construir protótipos do Paraíso Terrestre, e seu indispensável museu de belas-artes, em Atami e Kyoto. Aproveito o ensejo para expressar meu desejo de poder contar com o apoio de todos os senhores.
Meishu-Sama, 9 de julho de 1952
(saudação proferida por Meishu-Sama na inauguração do Museu de Belas-Artes de Hakone)
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