Parece regra geral desenvolver o raciocínio do ponto de vista religioso, quando se escreve sobre ateísmo, mas eu pretendo discorrer sobre esse tema sem tocar em Religião, colocando-me a mim próprio na posição de ateu.
Quando uma criança nasce, o seio materno lhe fornece o leite para a sua nutrição. A criança cresce normalmente e os pais ministram-lhe alimentação adequada à primeira dentição. Assim, ela vai vencendo várias fases de seu desenvolvimento, até atingir a adolescência. A alimentação, portanto, é a base do crescimento. O Homem se nutre graças ao paladar. Creio ser esse o maior de todos os prazeres humanos.
O físico e também a inteligência vão se desenvolvendo gradualmente através da instrução e, na mocidade, o ser humano, está apto a exercer funções normais de um adulto. Surgem-lhe, então, diversas ambições, como a ânsia de poder, o espírito de competição e de progresso e, no plano físico, em forma de diversão, folguedos e namoros.
Dessa maneira, o homem está pronto para participar da vida social, característica de um ser superior, com os sofrimentos e as alegrias, que nascem da razão e do sentimento.
Consideremos, agora, a Natureza.
No Universo, não só os fenómenos visíveis, como o Sol, a Lua, as Estrelas, a Via-Láctea, a temperatura, o vento, a chuva, os animais, os vegetais e os minerais, que estão directamente relacionados com o ser humano, mas também os fenómenos invisíveis, tudo está sob acção e controle do poder da Natureza. Esta é a própria figura do mundo. Observando-a calmamente e sem ideias preconcebidas, qualquer pessoa - a menos que seja insensível - fica embevecida com o seu encanto misterioso.
A Natureza é dotada de mistério profundo e insondável. Grandioso é o Céu que contemplamos e ilimitada é a sua extensão. Como se apresenta o centro da Terra? Qual o número certo de estrelas, o peso exacto do globo terrestre, a quantidade das águas marítimas? Se começarmos a enumerar coisas e factos, não acabaremos nunca.
A especulação nos deixa abismados com o movimento metódico dos astros, a formação da noite e do dia, o fenómeno das estações, o sentido esotérico dos 365 dias do ano, a evolução de todas as coisas, o progresso ilimitado da civilização, etc. Quando surgiu este mundo? Qual a sua extensão? Ele é finito ou infinito? Qual o limite da população mundial? E o futuro da Terra?
Tudo permanece envolvido em mistério. Tudo caminha silenciosamente, sem a mínima falha ou atraso, obedecendo a uma ordem determinada.
Ainda nos deparamos com os seguintes problemas: Por que viemos a este mundo e que papel devemos desempenhar? Até quando poderemos viver? Voltaremos ao Nada, após a morte, ou existe o desconhecido Mundo Espiritual onde iremos habitar em paz? As reflexões sobre o assunto nos deixam ainda mais confusos, permanecendo tudo na obscuridade. Não há outro qualificativo a não ser os que dizem os bonzos: "A Realidade é um Nada, o Nada é uma Realidade."
Vasta, ilimitada e infinita é a existência do mundo. O ser humano, com a pretensão de desvendar este mundo misterioso, vem empregando todos os meios, principalmente, a pesquisa; apesar de seus esforços, só consegue conhecer uma pequena parcela dos fenómenos infinitos. Daí atinarmos com a insignificância da inteligência humana em relação à Natureza. É significativa a expressão "sombrio vazio", também citada pelos bonzos. Entretanto, a vaidade humana, em sua tola presunção, excede-se ao ponto de querer subjugar essa mesma Natureza. Sábio é o homem que, antes de mais nada, procura conhecer a si mesmo, submete-se a ela e participa das suas graças.
Analisando a Natureza sob o aspecto da vida humana e do ambiente que a rodeia, subsiste um enigma que sobrepuja todos os outros: "Quem construiu este mundo maravilhoso e o governa à sua vontade?" Ninguém poderá deixar de reflectir sobre o seu Criador, nem sobre o propósito com o qual foi construído um mundo tão esplendoroso. Procuremos imaginar esse Criador.
Um lar é governado pelo chefe de família; um país, pelo rei ou presidente. Logicamente, este mundo deve ser dirigido por alguém. Em que poderia ser senão o Ente conhecido como Deus? Não encontro outra conclusão. Por conseguinte, negar Deus significar negar o mundo em si mesmo. Tal lógica não permite dúvidas; se alguma pessoa duvidar, coloca-se num plano de obstinado preconceito. Nesse caso, assemelha-se aos irracionais: é desprovida de inteligência.
Nossa missão é extirpar do homem essa irracionalidade, transformando-o em verdadeiro ser pensante, numa verdadeira obra de reforma humana. Até mesmo o ateu deve convir que a grandiosidade do Universo e a perfeição cósmica só podem partir de um princípio perfeito: DEUS.
Meishu-Sama, 6 de Janeiro de 1954
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