A causa das doenças são os nódulos constituídos pela mistura
de sangue sujo e pus, os quais se formam como reflexos das máculas do espírito.
Mas de onde surgiram e como vieram essas máculas? Elas se originam dos pecados.
Há dois tipos de pecados: os gerados nesta vida e os
hereditários. Estes últimos são o acúmulo global dos pecados cometidos por
muitos antepassados; os primeiros representam a soma dos actos pecaminosos
praticados pela própria pessoa.
Nós que vivemos actualmente, não somos seres surgidos do
nada, sem relação com nada. Na verdade, representamos a síntese de centenas ou
milhares de antepassados e existimos na extremidade desse elo. Somos, portanto,
seres intermediários de uma sequência infinita, formando uma existência
individualizada no tempo. Em sentido amplo, somos um elo da corrente que une os
antepassados com as gerações futuras; em sentido restrito, somos uma peça como
a cunha, destinada a firmar a ligação entre nossos pais e nossos filhos.
Para explicar as doenças causadas pelos pecados dos
antepassados, preciso falar sobre a vida após a morte, isto é, sobre a
constituição do Mundo Espiritual.
Ao deixar este mundo e passar pelo portão da morte, o homem
tem de despir a roupa denominada corpo. Este pertence ao Mundo Material, e o
espírito, ao Mundo Espiritual. Quando o corpo, devido à doença ou à idade avançada,
torna-se imprestável, o espírito abandona-o e vai para o Mundo Espiritual. Aí
ele deve se preparar para renascer no Mundo Material, ou seja, reencarnar. Este
preparo constitui o processo da purificação do espírito.
A maior parte das pessoas carrega uma quantidade
considerável de máculas, originadas dos pecados. Assim, quando são submetidas
ao julgamento do Mundo Espiritual, feito com absoluta imparcialidade, a maioria
acaba caindo no Inferno. Devido ao sofrimento da pena imposta, o espírito vai
pouco a pouco se elevando, mas os resíduos da purificação dos pecados fluem
contínua e incessantemente para os seus descendentes que vivem no Mundo
Material. Isso é como uma lei redentora, baseada na causa e efeito, em que o
descendente – resultado da soma global dos seus antepassados – arca com uma
parte dos pecados cometidos por eles. Trata-se de uma Lei Divina inerente à
criação; por conseguinte, o homem não tem outro recurso senão obedecer a ela.
Esses resíduos espirituais fluem sem cessar para o cérebro e a coluna vertebral
do descendente, e, penetrando em seu espírito, imediatamente se materializam na
forma de pus, que é a origem de todas as doenças.
Agora vou falar sobre o segundo tipo de pecados, isto é, os
pecados individuais, que todos entendem com facilidade.
Ninguém consegue viver sem cometer pecados. Estes podem ser
graves, médios e leves, admitindo cada um desses tipos uma infinidade de
classificações. Exemplificando, há pecados contra a lei, contra a moral ou
contra a sociedade; pecados de natureza carnal, que se evidenciam nas acções do
indivíduo, e também pecados psicológicos, cometidos apenas na mente da pessoa.
Conforme disse Cristo, só o facto de desejar a mulher do próximo já constitui
crime de adultério. É uma afirmação correcta, apesar de bastante rigorosa.
Portanto, embora não se esteja violando nenhuma lei, pecados leves cometidos no
dia-a-dia, os quais ninguém considera pecados, como ter raiva do próximo,
querer que alguém sofra ou desejar adultério, se forem acumulados por longo
tempo, acabarão assumindo proporções consideráveis. Vencer uma competição ou
alcançar sucesso na vida, condutas que envolvem disputa e acabam provocando a
inveja e o consequente ódio do perdedor, também constitui uma espécie de
pecado, pois envolve o ódio. Matar animais, ser preguiçoso e desperdiçado,
agredir as pessoas, não cumprir os compromissos, mentir, dormir demais pela
manhã, etc., tudo isso são pecados que as pessoas acumulam sem saber. Essa
infinidade de pecados leves, acumulando-se ao longo do tempo, refletem-se no
espírito em forma de mácula. É comum pensar que os recém nascidos não possuem
pecado algum, mas não é bem assim. Todos os homens, até se tornarem
independentes, vivem sob a tutela dos pais e por isso devem dividir com eles a
carga dos pecados. Poderão entender melhor este raciocínio fazendo uma analogia
com as árvores: os pais constituem o tronco, enquanto os filhos são os galhos,
e os netos, os galhos menores. Assim, é impossível as máculas dos pais não
exercerem influência sobre os filhos.
Os pecados gerados nesta vida tornam-se bem claros através
de exemplos. Vou expor alguns deles.
Conheci duas pessoas que, após enganarem a terceiros,
ficaram cegas. Uma delas era um especialista em confecção de painéis chamado
Kyoguin, o qual residia em Senzoku-cho, Assakussa, Tóquio. Ele produzia quadros
falsos com uma técnica aprimorada e fazia painéis novos parecerem antigos,
vendendo-os como autênticos. Em poucos anos acumulou considerável fortuna, mas
foi acometido de cegueira incurável, vindo, mais tarde, a falecer. Lembro-me de
que quando eu era criança ia brincar em sua casa e ouvia as histórias
directamente dele. O outro caso ocorreu em Hanakawa-do, também em Assakussa,
onde havia uma casa de móveis e utensílios chamada Hanagame. Certa vez, o bonzo
responsável por um templo de Shizuoka expôs em Tóquio a imagem principal do
templo. Acontece que a exposição foi um completo fracasso e, ficando sem meios
para voltar, ele tomou dinheiro emprestado na Casa Hanagame, deixando a imagem
como garantia do pagamento da dívida. Após conseguir o dinheiro, foi
devolvê-lo, mas Hanagame, o dono da loja, que vendera a imagem, por altíssimo
preço, a um interessado, cinicamente alegou que nunca a tivera sob sua guarda.
No auge do desespero, o bonzo acabou se enforcando no tecto da referida loja. O
proprietário investiu avultosa quantia obtida com a venda da imagem na
ampliação dos seus negócios, que foram de vento em popa. Em pouco tempo ele
estava milionário. Entretanto, na velhice, ficou cego e seu herdeiro acabou
esbanjando toda a fortuna com bebidas e mulheres. Por fim, em estado lastimável
de profunda decadência, Hanagame perambulava pela cidade conduzido por sua
mulher, também já idosa. Lembro-me de tê-los visto algumas vezes e de ter
tomado conhecimento de sua história por intermédio de meu pai. O que ocorreu,
só pode ter sido causado pelo profundo ódio do bonzo.
O exemplo que se segue diz respeito ao reflexo dos pecados
dos pais sobre os filhos. Refere-se a uma empregada que eu tive, moça de
dezessete ou dezoito anos aproximadamente, a qual era cega de um olho.
Perguntando-lhe eu a causa desse problema, ela me disse que o filho de um casal
para quem trabalhara havia disparado acidentalmente uma espingarda de pressão,
atingindo seu olho. Indagando maiores detalhes, eu soube que o pai dela havia
enriquecido vendendo coral falso. No início da Era Meiji, por volta de 1867,
utilizando látex, ele fabricara gemas falsas de coral. Levando-as para o
interior, conseguira vendê-las a preços altos, como se fossem verdadeiras.
Acredito que o ódio das pessoas enganadas se reflectiu em sua filha, que acabou
perdendo uma vista. Pareceu-me realmente uma pena, pois ela era muito bonita e,
se não tivesse esse defeito, teria progredido bastante na vida.
Outro caso é referente a um ancião que veio me procurar por
causa de uma dor que sentia no pulso. Ministrei-lhe JOHREI por mais de dez
dias, mas ele não apresentava melhora. Intrigado, indaguei-o a respeito de sua
fé, e ele me disse que venerava certa divindade há mais de vinte anos. Vendo
que estava aí a causa do problema, convenci-o a parar com as orações. A partir
desse dia, o ancião começou a melhorar gradativamente; após uma semana, já
estava totalmente curado. Portanto, professar uma fé errada ou venerar falsas
divindades provoca paralisia ou dores nas mãos, impossibilidade de dobrar os
joelhos, etc. Casos desse tipo ocorrem com certa frequência.
Através dos exemplos citados, podemos ver que não se devem
menosprezar nem mesmo os pecados cometidos sem querer. As pessoas que sofrem
constantes acidentes ou são acometidas de doenças precisam reflectir sobre seus
pecados e, encontrando-lhes a causa, regenerar-se imediatamente.
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