Diz um velho ditado: “Tolerar o que é fácil está ao alcance de todos, mas a verdadeira tolerância significa tolerar o que é intolerável”. Outro ditado aconselha: “Carrega sempre contigo o saco da paciência e costura-o toda vez que ele se romper”. Encontro boas razões nesses conselhos.
As pessoas me perguntam: “Que práticas ascéticas o senhor realizou? Subiu alguma montanha para banhar-se numa cascata, jejuou ou fez outras penitências?” Então esclareço que jamais pratiquei tais coisas. Todas as minhas “penitências” consistiram em tolerar a tortura das dívidas e reprimir a ira. Quem ouve, fica espantado, mas é a pura verdade. Creio que Deus determinou aperfeiçoar-me mediante purificações desse tipo, pois continuamente têm aparecido fortes motivos para eu ficar irritado. Por natureza, detesto irritar-me, mas há sempre alguma coisa que me afeta nesse sentido.
Certa vez, passei por tanta vergonha devido a um desentendimento, que mal conseguia encarar as pessoas. Minha indignação atingia o auge e eu não conseguia reprimi-la. Foi quando me fizeram um convite para comparecer a uma festa. Nas circunstâncias, o convite era irrecusável. Lá, entretanto, permaneci desligado, sem poder concentrar meu espírito. Tomei até uma dose de saké, para me descontrair. Isso demonstra como eu estava perturbado. Somente após alguns dias consegui recobrar a tranquilidade.
Mais tarde, vim a saber que a minha ida àquela festa salvou-me de uma grande desgraça. Se não fosse a indignação daquele momento, eu não teria comparecido a ela, e teria recebido um golpe fatal. Realmente fui salvo pela ira e não pude conter minha gratidão.
Quem tem missão importante, é submetido por Deus a muitos aprimoramentos. Creio que ter de reprimir a raiva, é uma das maiores provas. Aqueles que têm muitas razões para irritar-se, devem compreender que sua missão é grandiosa. Se conseguirem resistir a todo tipo de provocação, mantendo calma absoluta, terão concluído uma etapa do seu aprimoramento. (…)
Lembrem-se, pois, de que Deus treina e disciplina aqueles que têm grande missão a cumprir.
Gostaria de voltar ao assunto das dívidas.
Baseado na minha própria experiência, concluí que as dívidas são motivadas pela precipitação, que nos faz forçar situações.
Jamais devemos forçar uma situação. Se o fizermos talvez obtenhamos um êxito passageiro; entretanto, mais cedo ou mais tarde, seremos colhidos pelas consequências, enfrentando obstáculos inesperados. É possível, que após um rápido sucesso, nos vejamos forçados a voltar ao ponto de partida. Examinando as causas da derrota di Japão na Segunda Guerra Mundial, veremos que houve quem forçasse muito a situação.
Impor soluções e precipitar providências provoca desequilíbrio mental e impede as boas inspirações. Pior ainda é agir à força, de qualquer maneira, na falta de ideias. Só devemos tomar resoluções depois que surge a ideia apropriada, isto é, quando houver a certeza de que o plano concebido não vai falhar. Em outras palavras, é preciso aplicar o método: "Pense duas vezes antes de agir."
Quase sempre é muito difícil o pagamento das dívidas. Se elas se prolongarem, os juros aumentarão causando grande sofrimento moral.
Existem dívidas ativas e dívidas passivas. As ativas fazemo-las para investir em negócio rentável; as passivas, para cobrir prejuízos. Embora muitas vezes estas últimas sejam inevitáveis, não devemos contraí-las. Se formos vítimas de prejuízos, devemos abandonar toda a ostentação e falsa aparência, reduzir os nossos gastos e esperar que surjam novas oportunidades.
Também desejo chamar a atenção para um ponto importante: a ganância. Consideremos o velho ditado: "Quem tudo quer, tudo perde". Os prejuízos geralmente são causados pela ambição de ganhar demais. Não existe, neste mundo, o pretenso "negócio da China" que tantos vivem a propor. Desconfiemos desse tipo de negócio. O empreendimento que não parece grande oferece melhores perspectivas. Exemplificarei com a minha própria experiência.
Certa ocasião, eu precisava de dinheiro para saldar dívidas e impulsionar a obra religiosa. Não foi fácil consegui-lo; enquanto eu o desejava muito, não entrava dinheiro algum. Por fim, resignei-me deixando o problema nas mãos de Deus. Quando eu já estava esquecido de tudo comecei a receber inesperadamente grandes somas. Percebi, então que o mundo não pode ser explicado em termos de raciocínio comum.
Meishu-Sama, 25 de Janeiro de 1949
Sem comentários:
Enviar um comentário