Já escrevi a respeito em outras oportunidades, mas insisto
sobre o assunto porque, quanto mais observo o mundo actual, mais vejo pessoas
infelizes.
É desnecessário dizer que, desde a antiguidade, a boa ou má
sorte do homem constitui a questão mais difícil que existe. Talvez o ser humano
esteja fadado, desde o momento em que nasce até o momento em que morre, a nunca
se libertar do desejo de obter a boa sorte. Isso porque geralmente não
conseguimos compreender aquilo que mais desejamos. Seria maravilhoso se o conseguíssemos,
mesmo que fosse um pouco. Felizmente, eu adquiri clara compreensão dos
fundamentos para se alcançar a boa sorte. Além disso, pelas minhas próprias
experiências, verifiquei que eles não contêm o mínimo erro, de modo que os
exponho com toda a convicção.
Conforme todos podem observar, não existe nada mais vago,
abstracto e difícil de ser obtido que a boa sorte, algo tão simples. Não estando
ela ao nosso alcance, a única alternativa que temos, naturalmente, é esperar
por ela. Daí, talvez, o nome sorte. Concordo com as palavras: “A vida é uma
grande aposta”, pois até as pessoas consideradas sábias continuam a perseguir a
boa sorte, embora pareçam ter perdido as esperanças de alcançá-la. Talvez esta
seja a predestinação dos homens.
É unicamente pela vontade de alcançar a boa sorte que
conseguimos fazer diversas coisas, seja qual for o sacrifício. Por esse motivo,
também, é que “fazemos das tripas coração” e chegamos ao fim da vida
sacrificando-nos para realizar nossos desejos. Assim, talvez, seja a vida. Não
existe nada mais irónico que a sorte: quanto mais tentamos agarrá-la, mais ela
foge. No Ocidente, existe um ditado que diz: “A oportunidade de obter a boa
sorte só aparece uma vez na vida. Se a perdermos, não encontraremos outra”. É
exactamente assim.
Pela minha longa experiência, sinto que sou constantemente
ludibriado pela sorte. Às vezes parece que vou consegui-la facilmente, mas tal
não acontece. Quando a vejo bem diante de meus olhos e estendo as mãos para
alcançá-la, ela acaba escapando. Quanto mais a perseguimos, mais rápido ela
foge. É realmente difícil lidar com ela. Mas eu consegui agarrar de facto aquilo
que se chama sorte. Entretanto, o que complica a sua explicação é a existência de
pontos desconhecidos que as pessoas dificilmente compreendem, salvo as que têm
fé. Isto porque elas olham somente o lado superficial das coisas e não o seu
interior; ou melhor, não o enxergam. E no caso da sorte, sua causa está
justamente no interior; sem compreender isso, é impossível alcançá-la. Quando o
homem movimenta o corpo, não é o corpo em si que se move; quem o faz mover-se é
o espírito, que está dentro dele. Da mesma forma, o factor essencial da sorte
está no interior do homem. Vou explicar melhor.
Em primeiro lugar, ampliemos a teoria acima. A parte superficial
do mundo corresponde ao Mundo Material, e a parte interior, ao Mundo
Espiritual, ou seja, o espaço invisível aos nossos olhos. Esta é a estrutura do
mundo; assim o fez o Criador. Por isso, da mesma forma que o espírito move o
corpo, o Mundo Espiritual move o Mundo Material. Em tudo, o Mundo Espiritual é
soberano, e o Mundo Material, súbdito. Portanto, o mesmo acontece com a sorte;
basta que ela advenha ao nosso espírito, que se encontra no Mundo Espiritual,
para que, reflectindo igualmente na matéria, nos tornemos pessoas afortunadas.
Darei explicações mais detalhadas sobre o Mundo Espiritual.
Ele possui uma hierarquia muito mais justa e rigorosa que a
do Mundo Material. É constituído de cento e oitenta camadas, distribuídas em
três planos – Superior, Intermediário e Inferior – cada um composto de sessenta
camadas. Naturalmente, o Plano Superior é o Céu; o Inferior é o Inferno; o
Intermediário corresponde ao Mundo Material. Talvez o homem contemporâneo não
acredite nisso de imediato; entretanto, como Deus me mostrou minuciosamente a
relação entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material, e, através de minha longa
experiência, adquiri o mais profundo conhecimento sobre o assunto, não há o
menor erro no que estou afirmando. Como prova disso, existem inúmeras pessoas
que, acreditando nesse princípio e colocando-o em prática, conseguiram alcançar
a boa sorte. Eu me incluo entre elas. Para se certificarem do que estou
dizendo, basta que me analisem imparcialmente: constatarão o estado de
felicidade em que eu me encontro.
Ampliando um pouco mais o assunto, falarei sobre as camadas
espirituais mencionadas acima.
Se, conforme expus, o corpo físico do homem está no Mundo
Material, e o espírito, no Mundo Espiritual, este deve situar-se numa das cento
e oitenta camadas, a qual seria uma espécie de “residência” do espírito. Esta
“residência” não é fixa; flutua constantemente para cima ou para baixo. Uma vez
que o destino acompanha essa flutuação, o homem deve esforçar-se ao máximo para
elevar-se às camadas superiores.
Naturalmente, o Plano Inferior é o Inferno; um mundo de
trevas, repleto de doença, pobreza, conflito e figuras horrendas, assombrosas,
monstruosas, com todos os tipos de sofrimentos possíveis. Em contraposição,
quanto mais alta for a camada, melhor a sua condição. O Plano Superior é o Céu,
local puro, de paz, luz, saúde e riqueza. O Plano Intermediário é mais ou menos
a média entre os dois extremos. Consequentemente, se a “residência” do Mundo
Espiritual reflecte-se na matéria e transforma-se em destino, é claro que o
princípio fundamental da boa sorte está na elevação do nível espiritual.
Como nos mostra a realidade, existem muitas pessoas que,
tornando-se importantes e invejadas por terceiros, ficam orgulhosas e pensam
que continuarão assim eternamente. Um dia, porém, de forma inesperada, vêem-se
decaídas, arruinadas, regredindo ao estado anterior. Isto acontece porque,
desconhecendo o fundamento da boa sorte, elas se baseiam quase que somente na
força humana. Além disso, maltratam os outros e forçam situações. Assim, mesmo
que, aparentemente, obtenham êxito, seu espírito está decaído no Inferno. Em
consequência, pela Lei do Espírito Precede a Matéria, essas pessoas passam a
ter o mesmo destino. Da mesma forma que a matéria, o espírito tem peso, de modo
que, se ele for pesado, cai no Inferno, e se for leve, sobe ao Céu. A conhecida
expressão “peso na consciência” refere-se exactamente a isso.
Ao contrário das más acções, que maculam o espírito e o
tornam pesado, as boas acções o tornam leve, fazendo-o elevar-se. Por
conseguinte, o segredo da boa sorte é evitarmos o mal, não cometermos pecados e
praticarmos o bem o máximo possível, tornando leve o nosso espírito. Por se
tratar da Verdade, afirmo que não há outra maneira para alcançarmos a boa
sorte.
Explicada dessa forma, a teoria é realmente fácil de ser
compreendida; entretanto, quando vamos colocá-la em prática, torna-se muito
difícil. Existe, porém, um método facílimo para conseguirmos isso. Esse método
não é outro senão a Fé. Portanto, as pessoas que realmente desejam obter a boa
sorte, antes de tudo e mais do que tudo, devem se converter.
Meishu-Sama, 3 de fevereiro de 1954
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